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Cópia, uma polêmica que caducou?


Poucos são os assuntos no meio artesanal que despertam tanta comoção como a cópia, a imitação da peça de uma artesã por outra. Lá no finalzinho dos anos 2000, o tema, a meu ver, era ainda mais quente. Naquela época estávamos vivendo um momento de aprender fazendo. Ninguém sabia ao certo como vender seu produto na internet. O terreno digital era um imenso mato a ser desbravado. A mídia tradicional (revistas, jornais e TV) estava começando a prestar atenção nas pequenas artesãs e artesãos que estavam se destacando com seus pequenos negócios. Produtos artesanais vendidos online estavam ganhando espaço fora do ambiente digital e isso era bem empolgante. Nossos produtos foram publicados em revistas e jornais e até nosso modesto ateliê figurou em uma revista de decoração. Até que um dia recebemos um email de uma cliente avisando que uma carteira idêntica à nossa tinha sido publicada num importante jornal, no caderno regional do Rio, com a autoria de uma outra pessoa. A foto da carteira estava lá impressa com o fecho e os bolsinhos muito característicos, dispostos de uma maneira que dificilmente poderia ser uma mera coincidência. A sensação de ter uma peça copiada e divulgada para mais pessoas do que eu, por meus próprios meios, era capaz de fazer, é muito amarga. Era como se a autoria pouco importasse, o que era, de fato, relevante era o alcance daquela informação. De certo modo, esta pequena experiência pessoal preludiou o estado de coisas que a gente vive hoje. A autoria vem se tornando algo de pouco significado, porque nosso consumo de informação e do dito conteúdo é tão voraz e desenfreado que sobra pouco tempo e recurso mental para a fruição do que estamos consumindo. De que importa quem costurou tal bolsa, fez determinado filme ou criou um modo peculiar de narrar uma história? O que seria uma obra hoje se tudo parece virar pó em poucas horas? Basquiat, Fellini, Dostoievsky, os Beatles fariam suas obras hoje? Como isso seria possível nessa atmosfera em que quase tudo se rende a uma dinâmica de timeline de rede social ou de streaming, em que a gente só arrasta a imagem ou o filme pra cima e vê outro, mais outro e mais outro? Não tenho condições de dar nenhum tipo de resposta, mas isso nos ajuda a entender porque o próprio sentido da cópia tenha se modificado. Não diminuo o ultraje dessa prática, mas numa realidade em que qualquer produto ou ideia são atropelados por centenas de outros, reivindicar autoria contém um trágico anacronismo. O que perdemos com o declínio da autoria e da obra e como isso afeta nossa capacidade interpretativa? Qual o nosso papel como consumidores de informação? Estamos virando fãs de quem nos subestima e emburrece com falas banais e repetitivas ou estamos ouvindo que nos instiga e nos ajuda a expandir nossos horizontes?

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Deixo esse combo de perguntas difíceis para vocês e se alguém quiser continuar essa conversa, me enviem um e-mail!

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